terça-feira, 14 de novembro de 2017

"O crime que a gente combate é eminentemente cultural"



O Espelho vai se abrindo, grande, colorido, sob o olhar atento da major Denice Santiago do Rosário, 46. “Cuidado aí para não sujar!”, diz, antes de inclinar a cabeça e sussurrar: “Menina, a impressão disso foi R$ 700! Paguei do meu bolso”. O Espelho é o jogo que Denice criou para que mulheres pensem sobre as violências cotidianas que sofrem. Já tinha versões menores do tabuleiro, mas quis fazer um gigante para que as participantes se tornassem o próprio peão. Em 2015, a major idealizou e passou a coordenar a Ronda Maria da Penha, que atende mulheres vítimas de violência doméstica em Salvador e outras seis cidades do estado. Sabe que o crime que combate é “eminentemente cultural” e por isso cuida para que as ações de enfrentamento – impedindo que os agressores se aproximem das vítimas  – sejam tão urgentes quanto as preventivas. Há muita conversa na ronda, entre mulheres, especialmente, mas também entre homens. Em maio, a iniciativa ganhou o selo de práticas inovadoras do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, e em outubro Denice foi uma das vencedoras do Prêmio Claudia, na categoria políticas públicas. Gracejando, ela diz que os reconhecimentos a deixaram “insuportabilíssima”. Psicóloga e bacharel em segurança pública, Denice fez parte da primeira turma de mulheres da PM baiana, em  1990. Na corporação, criou o Centro Maria Felipa, para atender as colegas de farda, e acabou de idealizar um novo núcleo, o AMO Direitos Humanos, ainda sem data de implantação, para monitorar práticas de discriminação racial na polícia, esse tema nada polêmico que esmiuçou durante o mestrado na Ufba. 

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