sexta-feira, 29 de abril de 2016

Cirandas Parceiras: A Defensoria Pública e os Invisíveis 


No dia 27 de abril de 2016, o Projeto Força Feminina teve a honra de receber a assistente social Meire Gomes,acompanhada de Mafá, da Equipe Multidisciplinar da Especializada de Direitos Humanos da Defensoria Pública do Estado da Bahia, situada no bairro Canela.

O evento contou com a participação de 40 estudantes de universidades públicas e particulares de Salvador, além de representantes de instituições parceiras do Força Feminina.
A temática abordada foi em relação aos serviços prestados na Defensoria ao público de pessoas invisíveis em nossa sociedade como: moradores de rua, mulheres em situação de prostituição e usuários de substâncias psicoativas. 

Em uma de suas falas, Meire ressaltou a importância do trabalho em rede com instituições que desenvolvem o mesmo objetivo, este, de criar espaços de discussões e políticas públicas para dar visibilidade à população ainda fortemente marginalizada, além de realizarem trabalhos diretos com esse público.
 "A participação da Defensoria na rede é importante porque tenta efetivar não só os decretos, mas também a garantia do direito das pessoas terem acesso à saúde. É uma grande contribuição em prol das pessoas em situação de rua para garantir os direitos que já são deles pela Constituição Federal", disse a assistente social Meire Gomes.


Acrescentou, ainda, as ações que a Defensoria Pública da Bahia desenvolve em prol das pessoas em situação de rua no Centro Histórico de Salvador. "Disponibilizamo-nos sempre para os atendimentos das demandas que nos são apresentadas. Na saúde, enquanto equipe, lutamos pela garantia dos internamentos, de medicação e na garantia de inserirmos os equipamentos para o abrigo; a Defensoria sempre é solicitada na perspectiva de garantir os direitos que já estão assegurados", explicou Meire.







terça-feira, 19 de abril de 2016

Ressurreição no cotidiano da Vida da Mulher em situação de Prostituição.

Retomando a etimologia da palavra em latim resurrectio, em grego anastasis com o significado literalmente levantar, erguer. Em português é o ato de ressurgir, voltar à vida.
A Bíblia traz não somente a Ressurreição de Jesus, (Jo 20,1-9) mas também a de Lázaro (Jo 11,41-44), o filho da viúva de Naim( Lucas7,11-17), a filha de Jairo(Lc  8.41-42. 49 -55) esses são alguns textos que encontramos no segundo testamento( bíblia) que trazem a ressurreição como direito a começar de novo.
Lembro aqui que ressurreição não tem nada haver com vivificação de cadáver, aquele (a) que passa pela experiência da Ressurreição descobriu em si a alegria do que é ser semente. O mistério do grão de mostarda que ao ser lançada na terra precisa morrer para frutificar, semente que não morre não gera vida.
E aqui peço licença para citar parte de uma música que ao longo desses anos certamente ainda que não saibam diversas mulheres que tive a graça de acompanhar conhecer e escutar um pouco de suas histórias, carregam traços de ressurreição com garra vivem a luta ordinária de um começar e recomeçar de novo. Suas vidas se conectam nestes versos, relatam suas dores e a força em seguir lutando: “Tantas vezes me mataram/ Tantas vezes eu morri/ Mas agora estou aqui ressuscitando/ Agradeço meu destino e a essa mão com um punhal/ Porque me matou tão mal e eu segui cantando. Cantando ao sol Como uma cigarra/ Depois de um ano em baixo da terra/ Igual a um sobrevivente regressando da guerra. Mas depois de tanto pranto/Eu aos poucos percebi/Que o meu sonho não tem dono e segui cantando.”
E a canção continua: Tantas vezes te mataram, tantas ressuscitarás...
Ressuscitar para essas mulheres é o que acontece no cotidiano de suas vidas, no meio de tanto luto que a vida, a sociedade lhe faz carregar com o estguima de estar onde estar em ter que levar dinheiro para “casa” vendendo seus corpos se colocando a venda.
Morrem se aí no sepulcro dos que a mantém na invisibilidade, diante dos clientes violentos e abusivos, do marido (companheiro) que cobra para protege La, dos filhos que a exploram, dos familiares e vizinhos que vendem o teu silencio.
Vidas que cruzam com tantas vidas na busca de alguém anunciem também a elas que o tumulo está vazio. Como Serra e Antonia é preciso anunciar, convidar para a Páscoa celebrar, da semente que morre nasce uma vida.
Que complexo sistema social, temos mulheres sofridas, marcadas pelo abandono na suas diferentes esferas, seus sonhos foram roubados ainda na infância, as utopias se perderam pelo caminho, trajetória que a falta e o não lugar ainda hoje as acompanham, no entanto são mulheres que vivem


com alegria paralelamente a solidão levanta em meio à adversidade da prostituição, voltar à vida e se erguer é tão comum, repetiram isso por tantas outras vezes que poderíamos chama las de mulheres da Ressurreição.
Todavia a ressurreição só acontece de fato quando se tem noção do ocorrido, a experiência leva tempo, a semente antes de brotar tem que dormir embaixo da terra. A fecundidade demanda espera.
Não podemos esperar, temos pressa à cultura do imediato nos faz esquecer o processo que Antonia e Serra tinham com o pouco a pouco, ressurreição compartilhada, para mulheres fragmentadas.

A ressurreição se dará quando as trevas (dor e luto, exploração, alcoolismo, desumanização) forem dissipadas. A luz então resplenderá a experiência de que Ele vive por que ressuscitou e agora somos nascidos de novo poderá ser vivenciada com seus sonhos restaurados, seus direitos de mulher cidadã respeitada, a dignidade humana retomada uma nova historia sendo contada.

Ana Paula Assis

segunda-feira, 4 de abril de 2016

CIRANDAS PARCEIRAS

Com a participação de mais de 50 pessoas o Projeto Força Feminina promoveu no último dia 31 de março o 1º Cirandas Parceiras de 2016 com o tema “Rede de Articulação Social”, mediado pela coordenadora do projeto Alessandra Gomes.

O encontro foi com o objetivo de fortalecer as relações entre parceiros e refletir sobre atuações que possam viabilizar o trabalho de articulação entre eles e tornar ainda mais ágil e eficaz as ações voltadas às mulheres e grupos vulneráveis atendidos.
Contamos com a presença de estudantes da rede pública e particular de ensino, estagiários da Defensoria Pública do Estado da Bahia e representantes de instituições parceiras, como: Jaqueline Soares da UNIFACS, Fabiana Almeida Miranda da Defensoria Pública, Felipe da defensoria pública de Camaçari.

O encontrou fundamentou-se em 03 autores – Marcelo Neves, Elisabeth Loiola e Suzana Moura - que apresenta a palavra “rede” além do conjunto de fios que formam um entrelaço. Para eles REDE – na perspectiva das ciências sociais - é a articulação das organizações governamentais, não governamentais e informais, comunidades, profissionais, serviços, programas sociais, setor privado, bem como as redes setoriais, priorizando o atendimento integral às necessidades dos segmentos vulnerabilizados socialmente – em nosso caso as mulheres em situação de prostituição.
Neste caminho de reflexão pudemos perceber a importância do fortalecimento local para sermos mais objetivos na realidade que estamos inseridos, sem perder de vista que essa reflexão ultrapassa o campo social e atinge a “intimidade” de cada ator social para se questionar o que está fazendo para melhorar a realidade em que vive?


É certo afirmar que esse primeiro encontro nos emponderou à perspectiva da criação de um fórum voltado as mulheres em situação de prostituição e em situação de rua. Assim, essa luta continuará ainda mais fortalecida e articulada.








sexta-feira, 1 de abril de 2016

Páscoa, É Ressurreição!
Com o objetivo de evidenciar o verdadeiro significado da Páscoa, a equipe do Projeto Força Feminina, promoveu uma celebração que contou com a presença de aproximadamente 40 mulheres. Nesse contexto, para a acolhida, escolhemos músicas que faziam alusão a trajetória de Jesus, suas vivências, ensinamentos e reflexões que perpassam pelo amor ao próximo e renascimento.
Para tanto, após a apresentação da origem da páscoa, deixamos claro que, ao sacrificar-se, Jesus Cristo, trouxe ao mundo á esperança de uma vida melhor, sem dor ou sofrimentos e elencamos o verdadeiro significado da Páscoa com a importância da partilha, representados pelo pão e vinho. Nesse momento, dinamizamos essa partilha, visando uma reflexão, onde às mulheres puderam sentir a importância de partilhar e compreender a essência da vida em comunhão com o outro e suas particularidades. Assim, chegaram a conclusão que independente de suas crenças, costumes, etnia, erros e acertos...somos unidos pelo amor no Cristo ressuscitado.
Convém ressaltar que, às mulheres assistidas pelo projeto participaram com afinco de todos os momentos da celebração, deixando claro uma forte ligação com a mística religiosa que perpassa pelo verdadeiro significado desta celebração.
Nesse sentido, é sabido que, a sua ressurreição simboliza luz para um novo caminho e o domingo de páscoa marca a passagem da morte para a vida, representando uma oportunidade de retificarmos os nossos erros; estabelecermos um ponto de recomeço; de sermos mais assertivos e de buscarmos estratégias para sairmos das situações que nos oprime e tira a nossa paz!  Ademais, os integrantes do projeto, formaram um coral e cantaram a música: “ Aleluia” ( Gabriela Rocha),  e agradeceram ao nosso salvador, ao filho de Deus que caminhou pela terra e espalhou sua mensagem de amor, paz e salvação.

Por fim, socializamos uma pequena ceia que nos remeteu aos ensinamentos de partilha e comunhão com o nosso semelhante.






sexta-feira, 18 de março de 2016


O Projeto Força Feminina de Salvador realiza no próximo dia 30 de março o 1º Cirandas Parceiras de 2016 com a temática “Rede de Articulação Social”. O encontro pretende fortalecer a relação entre as diversas instituições vinculadas ao projeto para garantir os direitos das mulheres em situação de prostituição e outros grupos vulneráveis.
O Encontro Cirandas Parceiras acontece sempre na última quarta-feira do mês com o objetivo de criar um espaço de formação e articulação com parceiros buscando aprofundar temáticas acerca da realidade que estamos inseridos.

quinta-feira, 3 de março de 2016

Carnaval e Invisibilidade social

Rose Cristiane Salvador

O Carnaval de Salvador é um fenômeno que nasceu no início do século 20 com as reuniões de foliões em clubes e bailes, não tendo nunca se furtado a reafirmar uma das suas mais belas características, ser o carnaval soteropolitano uma festa, fundamentalmente feita na rua, onde famílias inteiras desfilavam fantasiadas, dançavam e se divertiam no centro antigo da cidade do Salvador.

Em 1950 com a invenção da guitarra baiana e a invasão dos trios elétricos às ruas, diminui-se substancialmente a folia nos bailes e clubes, dando início a era dos blocos de mortalhas. Gradativamente surgem trios associados a blocos de carnaval fechados (com cardas), composto por foliões vestidos por abadás e endossado pelo surgimento das megaestruturas de luxo dos camarotes que juntos passam a dominar o Carnaval soteropolitano em um movimento elitista e excludente, por muitos chamados de a privatização das ruas, isso porque:

A rua, só em certos momentos: procissões, paradas cívicas e festas, que na Bahia são conhecidas como festas de largo. Para além dessas circunstâncias, a rua é lugar de trabalho, de compras, de serviços – a rua é sempre funcional. (FREYRE, 1951, v. 1, p. 18)

Uma forte tendência vem caracterizando o carnaval de Salvador nos últimos anos, a de ter no espaço da rua a sua mais liberta e feliz morada. Um espaço democrático, onde a rua volta a ser de todos, agregando cada vez mais diversidade, e como dizia o poeta Caetano Veloso na canção Um Frevo Novo: “A praça Castro Alves é do povo, como o céu é do avião (...)”. É certo que na rua continuam os camarotes e o bloco de abadás, mas também tem as fanfarras, as bandinhas, os batuques, as escolas de samba, a Mudança do Garcia, afoxés e blocos de índios que pelo simples fato de estarem na rua ratificam, valorizam e legitimam o verdadeiro o poder popular de uma festa tão poderosa.

O Carnaval é uma manifestação cultural, popular e ritualística que tem um forte significado social. É a reafirmação de uma posição e ideologia onde fantasia e realidade se misturam, e travestidos, reis, mendigos, princesas e palhaços transitam em iguais condições de diálogo e convivência, tendo na apropriação desse ritual a garantia para penetrar no coração da cultura de uma sociedade, na sua ideologia dominante e no seu sistema de valores, podendo assim transgredi-los.

(...) Ver e ser visto são duas faces de uma mesma moeda, em geral, nos encontros humanos. Por isso, as histórias de espionagem nos fascinam e mobilizam tanto, elas dividem a unidade da experiência social em duas partes: um personagem vê (sem ser visto) e o outro é visto (sem ver e sem saber-se visto). A solução da trama depende do esforço titânico do protagonista que, no último capítulo, consegue inverter a posição relativa dos personagens, redefinindo a equação: quem observa quem, afinal. (SOARES, 2008, p.165)

Nesse contexto, podemos afirmar que é o ritual que nos permite tomar consciência das cristalizações dos papeis sociais, onde cada um dos lados (fantasia e realidade) permite “esquecer” o outro e ser a sombra e a luz em um mesmo objeto de estudo.
Um jovem pobre e negro caminhando pelas ruas de uma grande cidade brasileira é um ser socialmente invisível. (...) No caso desse nosso personagem, a invisibilidade decorre principalmente do preconceito ou da indiferença, uma das formas mais eficientes de tornar alguém invisível é projetar sobre ele ou ela um estigma, um preconceito. Quando fazemos, anulamos a pessoa e só vemos o reflexo de nossa própria intolerância. Tudo aquilo que distingue a pessoa, tornando-a um indivíduo; tudo o que nela é singular desaparece. (SOARES, 2008, 165)

A Invisibilidade social é um problema conjuntural que atinge a sociedade como um todo, abrangendo do primeiro ao terceiro mundo. Esta miopia social é uma mazela em que todos sofrem as consequências, diferindo apenas, a forma como a sociedade vai encará-la e trata-la.

Para tanto cria-se em 2013 a ação denominada: Carnaval Social - um espaço democrático de folia e informação, que tem como objetivo dar visibilidade as ações desenvolvidas pelas Instituições locais, promover uma ação social conjunta e fortalecer, ainda mais, a rede de atendimento sócio assistencial junto à população do Pelourinho e adjacências. Esta ação é promovida pelo Projeto Força Feminina - instituição social, de caráter pastoral, iniciativa do Instituto das Irmãs Oblatas do Santíssimo Redentor que tem por missão a promoção integral das mulheres em situação de prostituição, de maneira a colaborar no processo de conscientização e inserção cidadã.

O nascimento do Carnaval Social foi um processo constituído através da organização coletiva e articulada das instituições que desenvolvem seu trabalho junto a uma população vulnerável e invisibilizada do Centro Histórico de Salvador, e teve por consequência natural a nomeação do seu “cordão” momesco de O Bloco dos Invisíveis.

Ser invisível é não fazer parte do todo, ainda que se queira. É estar presente em um corpo sem alma, sem movimento ou querer. É, por muitas vezes, não reconhecer a necessidade de estar presente, integral e fazer suas próprias escolhas ou até mesmo desejar passar despercebido diante delas. Podemos ser invisíveis em diversas situações na vida, com ou sem ônus. Mas, dentre as diversas formas de miopia social, destacamos aqui a invisibilidade que maltrata, exclui e aliena, e é no combate a esse tipo de invisibilidade que o bloco dos Invisíveis dentro do projeto Carnaval Social se torna uma valorosa ferramenta geradora de diálogo, troca de saberes e acesso a direitos sócio assistenciais para a população carente do centro histórico do Salvador.


Referência Bibliográfica:

FREYRE, Gilberto: Sobrados e Mocambos, Prefácio à 1ª edição,. Rio de Janeiro, José Olímpio Editora, 1951;
SOARES, Luiz EDUARDO; BILL, Mv; ATHAYDE, Celso: Cabeça de Porco. 1. Ed. Rio de Janeiro: Objetiva, 2008

VELOSO, Caetano -  Música : Um Frevo Novo – 1977.