Prostituição infantil com vistas para o Parque
Olímpico
Polícia Civil do Rio lança operação
para prender quadrilha que explorava sexualmente adolescentes em apartamento de
luxo
Uma investigação da
Polícia Civil do Rio de Janeiro descobriu que atrás das promessas há uma
quadrilha deexploração sexual de menores. Graças ao site e outros anúncios em
redes sociais, os chefes da gangue, Márcio Garcia, de 33 anos, e Jonathan
Alves, de 24, conseguiam atrair adolescentes para se prostituírem. A dupla
mantinha alugados há um ano três apartamentos em um condomínio de luxo na Barra
de Tijuca, de frente para o Parque Olímpico. "Tudo aponta que a intenção
deles era aproveitar o aumento da demanda por causa da Olimpíada", explica
a delegada responsável do caso, Cristiana Bento.
Um dos apartamentos
servia de residência a pelo menos quatro adolescentes. Decorado com paredes
rosas e desenhos de Hello Kitty e das Meninas Superpoderosas, era monitorado por
câmeras 24 horas. Elas nunca saíam de casa sozinhas, submetidas a uma espécie
de cárcere privado, segundo apurou a polícia com os vizinhos, que vinham
reclamando há tempos do barulho das festas do grupo. No mesmo prédio, mas numa
cobertura de luxo, com jacuzzi no terraço, morava Marcio, o líder da quadrilha,
um homem obcecado com os próprios músculos, amante das armas, e que se define
no Instagram como um “empresário entre Miami e Rio”. No terceiro apartamento
residia Jonathan, o gerente e homem dos recados de Márcio. Jonathan exibia
enormes relógios e cordões de ouro e brincava, nas redes sociais, entre carros
de luxo: “Todos os dias de manhã essa indecisão! Nunca sei com qual eu vou!”
Quando os agentes
bateram na porta dos apartamentos nesta quinta-feira não tinha mais ninguém.
Entre os objetos apreendidos havia lingerie, testes de HIV, de sífilis, pílulas
do dia seguinte, algemas, preservativos e um monte de anabolizantes. As
investigações apontam o possível vínculo da gangue com o tráfico internacional
de drogas e revelam o alto padrão de vida dos líderes, que ostentavam nas suas
contas das redes sociais seus músculos, suas viagens, e carros. Ambos,
foragidos e com mandados de prisão decretado, tinham namoradas menores de
idade.
Segunda operação às vésperas
dos Jogos
Esta é a segunda
operação em menos de um mês que persegue a prostituição infantil voltada aos
Jogos Olímpicos, que começam no Rio no dia 5 de agosto. Semanas atrás, três
adolescentes foram resgatadas na orla da praia do Recreio, a 11 quilômetros do
Parque Olímpico. Entre elas estava Carol*, de 17 anos, que considera-se uma
“mulher independente” desde os 10. Parou de estudar na quinta série e não tem
familiares para quem ligar nem muito menos pedir dinheiro. Na prostituição
desde os 12 anos, costuma se exibir em vários pontos da cidade do Rio.
Luciana, de 17 anos,
começou a se prostituir para se sustentar há cerca de um ano, quando foi
expulsa de casa pela própria mãe ao denunciar que seu padrasto quis estuprá-la.
A mãe da adolescente não acreditou e cortaram toda comunicação. Hoje Luciana se
prostitui a 40 quilômetros da sua casa.
Maria chorou quando
perguntada por que se prostitui.Tem 16 anos e transa com homens em troca de
dinheiro desde os 15. Sua mãe, faxineira desempregada, sabe e a repreende, mas
ela não obedece e todos os dias sai da sua casa em Duque de Caxias para transar
a quilômetros dali, na região mais frequentada durante os Jogos.
A ação envolveu 90
agentes públicos, entre policiais, procuradores e serviços sociais da Prefeitura
mas apenas atingiu a ponta do iceberg de uma rede composta por, pelo menos, 40
meninas exploradas sexualmente e que ainda tinham que pagar 50 reais pelo seu
direito de ocupar a rua. A suspeita da polícia e do Ministério Público é que os
abusos de menores estejam se multiplicando nas vésperas de um evento como a
Olimpíada. “Fatalmente é esperado um aumento em razão dos Jogos, e estamos
atuando com prioridade em todas as informações de prática criminosa de que
tomamos conhecimento”, afirma a promotora de Justiça Ana Lúcia da Silva Melo
que assegura que as denúncias vêm aumentando nos últimos meses.
Sem políticas
específicas para resgatar crianças vítimas de exploração sexual, operações como
essa enxugam gelo, lamentam as autoridades consultadas. Carol, Luciana e Maria
reconheceram no mesmo dia que iriam voltar para a rua. Duas semanas depois da
ação policial, a praia do Recreio voltava a ser cenário de bordel.
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